Caminho por um bosque escuro, as vezes sinto que piso em buracos ou pedras maiores.
Tenho somente uma lamparina na mão direita.
Ouço as corujas e elas observam meus passos.
Sinto frio...
Procuro uma erva específica para utilizar no meu caldeirão.
Algo difícil de enxergar no meio da Mata.
Persisto.
Meus braços doem e minha pele está áspera. Estou cansada de caminhar ...
Falta somente este ingrediente na receita. O caldeirão está no fogo. Preciso terminar hoje.
Muitas pessoas dependem da poção desta noite.
Tropeço num galho meio esverdeado. No alto da árvore está uma coruja gigante, branca e olhos vermelhos. Ela bate as asas.
Entendo agora.
O ingrediente é muito sutil.
Uma pena um pouco suja de terra voa na minha direção.
Existe um riacho próximo.
Colho um pouco da água e retorno para minha receita.
Coloco a pena suja de terra numa panela e completo com a água do riacho. Deixo ferver e nada se perde!
Após a fervura despejo no caldeirão. Completo a minha receita.
Aguardo até a hora do portal.
Está pronto.
Bebo o cálice da Paciência.
Um sabor amadeirado com notas de frutas.
Percebo que meu coração acalma. A mente tranquiliza e já posso descansar meus pés.
Sei que no caldeirão coloquei muita flexibilidade, as forças da natureza e o conhecimento ancestral.
Seguir nos propósitos da Vida exige paciência.
Agora posso dormir e entrego o jarro amanhã !
Myriam Baraldi
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