segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Dica de leitura - Sob pressão

 




Li esse livro em 2019, antes de virar série na televisão. Aqui o autor vai nos contar a sua verdadeira rotina de guerra nos hospitais públicos no Rio de Janeiro. Realidade essa que é do sistema público de saúde como um todo. 

"Não se pensa a saúde com a profundidade necessária, como um sistema integrado, preventivo, que tem que funcionar em todas as pontas, com uma lógica que precisa juntar as peças de um quebra-cabeça. Daí o caos, a terra de ninguém." (pág. 29-30).

Sempre soubemos que a saúde no Brasil tinha problemas. Mas contada por um cirurgião você consegue enxergar as entranhas de onde o dinheiro é drenado. 

Gostei muito de fazer essa leitura. Com esse livro entramos a fundo na insuficiência de leitos, superlotação das emergências, carência e má formação dos profissionais de saúde, desigualdade na distribuição de médicos, falta de medicamentos e insumos hospitalares. É impossível sair indiferente dessa leitura.



Marcelle Marinho

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Dica de leitura - Duplo eu

 




Li essa história em quadrinhos em 2019. É a história da própria autora da relação com seu corpo. Navie já começa o livro mostrando a dificuldade de uma mãe obesa em acompanhar o filho pequeno e cheio de energia. Por não saber lidar com a questão do seu peso ela começa a mentir para si mesma, dizendo que está tudo bem consigo mesma. Quando ela precisa ir ao médico, tem um choque de realidade ao ser diagnosticada com obesidade mórbida, além de apresentar problemas de autoimagem e distúrbios alimentares. 

Por trás da aparente autoconfiança existia uma pessoa angustiada, que compensava sua angústia comendo em excesso. Durante o livro ela conta sua jornada de luta contra o vício em comer e ela trata esse vício como seu "duplo eu". 

Essa é uma daquelas leituras que fazem pensar muito.  



Marcelle Marinho

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Dica de leitura - Meu pequeno país

 




Li esse livro em 2019. É um romance que se passa em 1992 mas o autor inicia a sua história num passado mais recente, em que Gabriel, o narrador, conta um pouco sobre a sua vida na França. Imigrante, ele é visto com um olhar curiosos, daqueles em que as pessoas ficam tentando colocá-lo em uma caixa para classificar quem ele é e de onde ele veio. 

Gabriel é filho de um francês com uma ruandesa, refugiada dos conflitos do país. Com 10 anos, vive com seus pais e a irmã mais nova no Burundi. Desde pequeno ele tem a questão da identidade presente em sua personalidade. Ele enxerga o Burundi como sua casa, mas o sonho da mãe sempre foi retornar à Ruanda. Contudo a iminência de uma guerra civil no país amedronta a mãe. 

Meu pequeno país é um livro que começa leve, com relatos simples do cotidiano de Gabriel e sua família. Conforme os conflitos se levantam, o mundo protegido de Gabriel o obriga a enxergar que a vida não é nada simples e fácil. A melancolia vai tomando conta dele, assim como o medo.

Gostei muito de fazer essa leitura. É sempre bom conhecer realidades diferentes da nossa. 



Marcelle Marinho

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Dica de leitura - Elegia do irmão

 




Li esse livro em 2019. É um romance, espécie de diário familiar construído em capítulos curtos e sentimentais cujo narrador decide registrar e homenagear sua irmã Mara, diagnosticada com uma doença grave que leva a morte dela. A "elegia", originalmente um poema lírico e triste que prenuncia ou anuncia a morte é portanto, o registro do irmão de mara para os últimos dias dela.

Desde o inicio sabemos que mara vai morrer. Isso cria um efeito de cumplicidade e pêsames que para com o narrador-irmão, de forma que largar a leitura é como deixar de compartilhar o sofrimento humano: a iminência da morte. Durante a leitura ainda conhecemos a cidade de Cravinhos, onde a trama é ambientada e as histórias familiares que ainda sobrevivem na memória daquela família.

Essa é mais uma daquelas leituras que ao final te humanizam.




Marcelle Marinho 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Dica de leitura - O diário de Myriam

 




Fiz essa leitura em 2019. É o diário da própria autora retratando a guerra na Síria desde seu início, em 2011. Nessa época, Myriam tinha seis anos de idade. O livro tem uma linguagem muito simples mas ao mesmo tempo emocionantes ao relatar a trajetória da autora em meio à guerra na cidade de Alepo. Acompanhamos a narradora quando os primeiros tiros foram ouvidos, quando as primeiras bombas fizeram as paredes de sua escola tremer, quando a sensação de pânico foi se tornando cotidiana e todos foram se acostumando com o barulho dos tiros. 

É um livro que lembra muito o Diário de Anne Frank, que em meio à ascensão nazista escondeu judeus em sua casa e retratou esse período em seus diários.

 É uma leitura densa, pesada pela temática da guerra, mas vale a pena a leitura para que se conheçam outras realidades, muito diferentes da nossa aqui no Brasil.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Dica de leitura - Nos idos de março

 




Li esse livro em 2019. É um livro de contos cuja temática é uma só: a ditadura militar brasileira. Sobreviver à ditadura, instaurada com o golpe de 31 de março de 1964 e consumada no fechamento geral pelo AI-5 em 1968 não foi simples. O livro conta com textos de escritores como Antonio Calado, Roberto Drummond, Ignácio de Loyola Brandão, Frei Betto, Luiz Fernando Emediato, Fernando Bonassi, entre outros, que faziam as denúncias do regime de exceção sem poder ser claros para que a censura não barrasse seus livros. 

É mais um daqueles livros que expõe como foi extremamente violento o período da ditadura militar no Brasil. Uma triste parte da história do Brasil que precisamos conhecer para que ela não se repita. 




Marcelle Marinho 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Dica de leitura - Como se encontrar na escrita




Li esse livro em 2019. Mais um relacionado a escrita. Aqui a autora fala da escrita afetuosa. Não é a escrita com temática amorosa mas sim a escrita que ganha vida, alma, independente do tema abordado. É uma escrita cuidadosa, que toca quem lê. Também é uma escrita corajosa, que vai além da superfície. 

Ana apresenta essa forma de escrita, que na verdade, tem menos a ver com escrita e mais com a percepção sensível do mundo, com atenção aos detalhes. Ao longos dos capítulos Ana nos mostra o caminho percorrido até encontrar a escrita afetuosa dentro de si. No fim de cada capítulo ela sugere um exercício, seja de leitura, escrita ou uma atitude para nos tornarmos mais perceptivos. 

Alguns trechos interessantes do livro:

"É preciso se apoderar da palavra e entender que uma boa escrita está relacionada com a maneira como se olha para a vida. Existem boas histórias para serem contadas em todos os lugares. Elas podem brotar dos encontros mais simples e despretensiosos. Tudo depende do olhar."

"A escrita lhe pertence porque ela nunca deixou de lhe habitar. Às vezes, só a colocamos numa prateleira alta demais, numa caixa guardada no fundo do armário. Por isso, ela é um reencontro com você mesmo, com a vida."

Gostei muito de fazer essa leitura. Mais um livro que levo para a vida.



Marcelle Marinho




 

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Dica de leitura - Big Tech - A ascensão dos dados e a morte da política

 




Li esse livro em 2019. É um livro que fala de forma bastante crítica sobre a tecnologia do mundo moderno. As redes sociais hoje fazem parte da vida de muitas pessoas: Facebook, Twitter, Instagram, Tik Tok, WhatsApp, Linkedin... são tantas as redes que até cansa. Para o autor essas grandes corporações estão assumindo um papel que logo se tornará indispensável na vida humana, e muitas vezes um papel que é do Estado. 

O exemplo mais claro é a Uber. Por preços ditos acessíveis, a Uber assumiu uma parte importante da vida humana: transporte/deslocamento. Há outros exemplos, como Ifood (alimentação), Amazon (compras), Facebook, WhatsApp (comunicação). Uma das grandes questões que se levanta no livro é: como ficam as pessoas que trabalham para essas empresas? Em muitos casos, o regime de trabalho aplicado é precário, sem registro em carteira, sem qualquer benefício ou proteção social. 

Outra questão abordada no livro é com relação ao compartilhamento de dados pessoais dos usuários. Na internet das coisas, dos aplicativos, o tempo todo (mesmo quando as pessoas não compram/usam o site/aplicativo) seus dados estão sendo coletados e compartilhados. Mas existe razão para se preocupar? Com a leitura desse livro a pergunta que fiz foi: Não deveríamos ter o direito de não compartilhar nossos dados? 

Essa foi mais uma leitura daquelas provocativas, que colocam muitas pulgas atrás da orelha e fazem pensar. 



Marcelle Marinho




terça-feira, 3 de novembro de 2020

Dica de leitura - Setenta

 




Li esse livro em 2019. Um livro que retrata um dos períodos mais sombrios do Brasil, a ditadura militar, conhecida também como Anos de Chumbo. O livro retrata as semanas de cárcere de Raul, um bancário preso por engano depois de uma tentativa frustrada de sequestro do cônsul dos Estados Unidos em Porto Alegre pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). 

Apesar de ser um livro pesado, Setenta é um livro sensível e acessível, chocante em suas descrições de tortura, mas também rigoroso na construção da narrativa que intercala vozes e não segue uma ordem linear, passando pelos pesadelos do protagonista, através do desespero da mãe de Raul e do deboche de soldados encarregados de depoimentos que pouco respeitam os direitos humanos. 

Foi uma leitura por vezes tensa, difícil mas necessária para que se conheça, se lembre o que foi a ditadura militar no Brasil para que ela nunca mais se repita. Qualquer governo ditatorial não é a solução.



Marcelle Marinho

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Dica de leitura - 24/7 - Capitalismo tardio e os fins do sono

 




Li esse livro em 2019. É um ensaio dividido em quatro capítulos no qual o autor explora de forma crítica os aspectos históricos, sociais, culturais e econômicos que propiciaram a criação de um modo de vida, o chamado 24/7 (24 horas por dia, 7 dias por semana), em que a relação de consumo se dá de maneira ininterrupta, sem limitações de tempo e espaço, rompendo várias fronteiras necessárias para o equilíbrio do nosso planeta: o dia e a noite, o trabalho e o descanso, a vigília e o sono - este, a última barreira orgânica, humana, intransponível para o avanço irrefreável do capitalismo.

Por meio de análises de romances, filmes, obras de arte e de diálogos com o pensamento de filósofos como Marx, Arendt e Foucault, Aristóteles o autor desenvolve uma leitura instigante do mundo contemporâneo, levantando várias reflexões. Não é uma leitura simples, parei em muitos trechos. Foi um livro que me deixou com a "pulga atrás da orelha" ao olhar para forma como trabalhamos, consumimos, como nos relacionamos com as pessoas e com mercadorias, como comemos e claro, como dormimos. 



Marcelle Marinho