quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Dica de leitura - Quarenta dias


Li esse em 2017. Alice é uma professora aposentada, que mantinha uma vida pacata em João Pessoa até ser obrigada pela filha a deixar tudo para trás e se mudar para Porto Alegre. Mas uma reviravolta familiar a deixa abandonada à própria sorte, numa cidade que lhe é estranha, e impossibilitada de voltar ao antigo lar. Ao saber que Cícero Araújo, filho de uma conhecida da Paraíba, desapareceu em algum lugar dali, ela se lança numa busca frenética, que a levará às raias da insanidade. "Eu não contava mais horas nem dias", escreve Alice. "Guiavam-me o amanhecer e o entardecer, a chuva, o frio, o sol, a fome que se resolvia com qualquer coisa, não mais de dez reais por dia."



Marcelle Marinho

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Dica de leitura - As boas mulheres da China


Li em 2017 esse livro. Entre 1989 e 1997, a jornalista Xinran entrevistou mulheres de diferentes idades e condições sociais, a fim de compreender a condição feminina na China moderna. Seu programa de rádio, Palavras na brisa noturna, discutia questões sobre as quais poucos ousavam falar, como vida íntima, violência familiar, opressão e homossexualidade. De forma cautelosa e paciente, Xinran colheu inúmeros relatos de mulheres em que predomina a memória da humilhação e do abandono: estupros, casamentos forçados, desilusões amorosas, miséria e preconceito. São histórias como as de Hongxue, que descobriu o afeto ao ser acariciada não por mãos humanas, mas pelas patas de uma mosca; de Hua'er, violentada em nome da "reeducação" promovida pela Revolução Cultural; da catadora de lixo que impôs a si mesma um ostracismo voluntário para não envergonhar o filho, um político bem-sucedido; ou ainda a de uma menina que perdeu a razão em conseqüência de uma humilhação intensa. Quando Xinran começou suas entrevistas, o peso de tradições antigas e as décadas de totalitarismo político e repressão sexual tornavam muito difícil o acesso à intimidade da mulher chinesa. Desde 1949, a mídia chinesa funcionava como porta-voz do regime comunista. Rádio, televisão e jornais estatais eram a única fonte de informação, e a comunicação com pessoas no exterior era rara. Em 1983, o presidente Deng Xiao Ping iniciou um lento processo de abertura da China. Alguns jornalistas começaram a promover mudanças sutis na maneira como apresentavam as notícias. O programa apresentado por Xinran era um dos poucos espaços em que as pessoas podiam desabafar e falar de seus problemas pessoais. Nos relatos do livro, a autora possibilita a vozes antes silenciadas revelar provações, medos e uma capacidade de resistência que as permitiu se reerguer e sonhar em meio ao sofrimento extremo. Em condições extremas de vida, como a dos campos de reeducação da Revolução Cultural, afloram sentimentos de maternidade, compaixão e amor. O olhar objetivo de Xinran dá ao tema um tratamento firme e delicado, trazendo à tona as esperanças e os desejos escondidos nessas difíceis vidas secretas. 


Marcelle Marinho

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Dica de leitura - Quarto de despejo


Lido em 2017. Esse livro foi escrito em forma de diário por Carolina Maria de Jesus, uma catadora de material reciclável que morava na favela do Canindé na década de 1950. Retrata o cotidiano de sua vida, por vezes triste e cruel. Tem uma linguagem muito simples, os erros de sua escrita no livro incomodam à primeira vista. Foram mantidos de propósito. É uma linguagem contundente, realista e ao mesmo tempo sensível quando conta o que viu, viveu e sentiu nos anos em que morou na  favela do Canindé. 
Leitura essencial para nos mostrar que passado tanto tempo pouca coisa mudou na vida de quem vive em comunidades da periferia espalhadas pelo Brasil.



Marcelle Marinho

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Dica de leitura - Dois irmãos



Li esse livro em 2017, antes dele se tornar série na televisão. Conta a história de dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar, suas relações com os pais, a irmã, com a empregada da família e seu filho, que tem a infância moldada por esta condição: ser o filho da empregada. O lugar da família se estende ao espaço de Manaus, onde se passa o romance. O porto à margem do Rio Negro: a cidade e o rio, metáforas das ruínas e da passagem do tempo acompanham o andamento deste drama familiar. É uma leitura fluída mas que levanta muitos questionamentos, sejam eles interiores ou com relação a própria condição de família.


Marcelle Marinho