Li esse livro em 2018. Conta a história real do casal Nelson e Neusa, onde ela com 72 anos estava refém da cama numa casa de repouso, depois de quatro AVCs e em depressão profunda. Parecia não estar mais ali. Durante quatro anos Nelson a visitava todos os dias. A vida começou a ficar insuportável para Nelson, com 74 anos, um braço semiparalisado e impossibilitado de trabalhar na oficina mecânica montada em sua casa.
Em 28 de setembro de 2014, pelo terceiro dia consecutivo o aposentado transportava uma bomba no bolso, sem coragem de detoná-la. Uma enfermeira interrompe a visita de Nelson a esposa. Ela arrancou das mãos de Nelson uma pequena bisnaga com o que ele gotejava água de coco nos lábios e na língua de Neusa. A iniciativa era incompatível com a sonda e vetada no asilo. Tiraram de Nelson o único ponto de contato com a esposa.
Essa situação foi o estopim para que Nelson tomasse a decisão o artefato explosivo que carregava consigo., como uma forma de por fim aquele sofrimento. Da explosão que matou Neusa, ele saiu ferido e intoxicado. Passou alguns dias no hospital e três meses numa clínica psiquiátrica.
No país que obriga as pessoas a viverem a
decrepitude, o fim indigno, lento, arrastado e desumano, Nelson agiu na
tentativa de libertar a mulher. Onde o Estado nega ajuda médica para morrer, o
marido pretendeu tirar a companheira do que não era mais vida. E desejava para
si o suicídio. Queria ir embora com Neusa. Seu livro transpira a vida como ela
é: Nelson amava Neusa, havia carinho, companheirismo e também sentimentos
contraditórios, algumas rusgas e mágoas. O romance deles era de carne, osso e
rotina.
O Último Abraço levará o leitor a pensar um pouco
na solidão da velhice, no sofrimento que não produz cura e na ausência de
direitos – até mesmo o de sanar a sede com algumas gotas de água.
Marcelle Marinho
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