quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Dica de leitura - O último abraço



Li esse livro em 2018. Conta a história real do casal Nelson e Neusa, onde ela com 72 anos estava refém da cama numa casa de repouso, depois de quatro AVCs e em depressão profunda. Parecia não estar mais ali. Durante quatro anos Nelson a visitava todos os dias. A vida começou a ficar insuportável para Nelson, com 74 anos, um braço semiparalisado e impossibilitado de trabalhar na oficina mecânica montada em sua casa. 

Em 28 de setembro de 2014, pelo terceiro dia consecutivo o aposentado transportava uma bomba no bolso, sem coragem de detoná-la. Uma enfermeira interrompe a visita de Nelson a esposa. Ela arrancou das mãos de Nelson uma pequena bisnaga com o que ele gotejava água de coco nos lábios e na língua de Neusa. A iniciativa era incompatível com a sonda e vetada no asilo. Tiraram de Nelson o único ponto de contato com a esposa. 

Essa situação foi o estopim para que Nelson tomasse a decisão o artefato explosivo que carregava consigo., como uma forma de por fim aquele sofrimento. Da explosão que matou Neusa, ele saiu ferido e intoxicado. Passou alguns dias no hospital e três meses numa clínica psiquiátrica. 

No país que obriga as pessoas a viverem a decrepitude, o fim indigno, lento, arrastado e desumano, Nelson agiu na tentativa de libertar a mulher. Onde o Estado nega ajuda médica para morrer, o marido pretendeu tirar a companheira do que não era mais vida. E desejava para si o suicídio. Queria ir embora com Neusa. Seu livro transpira a vida como ela é: Nelson amava Neusa, havia carinho, companheirismo e também sentimentos contraditórios, algumas rusgas e mágoas. O romance deles era de carne, osso e rotina.

O Último Abraço levará o leitor a pensar um pouco na solidão da velhice, no sofrimento que não produz cura e na ausência de direitos – até mesmo o de sanar a sede com algumas gotas de água. 



Marcelle Marinho


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Dica de leitura - Para poder viver




Fiz essa leitura em 2018. Conta a história biográfica da autora, que aos 13 anos fugiu da Coréia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, cujo governo é conduzido com mãos de ferro pelo ditador Kim Jong-un. O objetivo de Yeonmi ao fugir da Coréia do Norte era apenas sobreviver à fome, às doenças e ao governo repressor. 

"Eu não estava sonhando com liberdade quando fugi da Coréia do Norte. Eu nem mesmo sabia o que significava ser livre. Tudo que sabia era que, se minha família ficasse para trás, provavelmente morreríamos - de inanição, de alguma doença, das condições desumanas de um campo de trabalho para prisioneiros. A fome tornara-se insuportável, eu queria arriscar minha vida pela promessa de uma tigela de arroz."

Imersos em uma cultura fortemente patriarcal, com sistema de castas e um culto ao líder que faz as pessoas acreditarem, a fim de obedecê-lo, que ele possui até mesmo poderes sobrenaturais, sendo capaz de controlar mentes, o controle do Estado sobre as pessoas é total e devastador. 

"Durante a minha infância, meus pais sabiam que a cada mês que passava, ficava mais difícil sobreviver na Coréia do Norte, mas não sabiam por quê. A mídia estrangeira era totalmente banida no país, e os jornais só davam boas notícias sobre o regime - ou punham a culpa de todas as dificuldades em tramas malignas de nossos inimigos."

O livro é dividido em três partes: Coréia do Norte, China e Coréia do Sul. Em algumas partes, a leitura é um pouco densa, difícil, mas extremamente necessária para que se tenha uma visão do todo, de como é a Coréia do Norte. 

É uma leitura que recomendo para que se conheça, um pouco que seja, um dos países mais fechados do mundo.



Marcelle Marinho

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Dica de leitura - O conto da aia




Fiz essa leitura em 2018, antes do livro virar série na televisão. É uma distopia teocrática onde, após uma revolução, todas as mulheres se tornam propriedades do Estado, que tem como promessa e objetivo o controle de natalidade a qual a sociedade de Gilead tem enfrentado. O livro descreve um regime abusivo, que cerceia os direitos humanos e suas liberdades. A autora nos apresenta uma realidade que por mais dura e absurda que seja, nos toca ao intercalar momentos do presente e passado da protagonista. Todos os seus passos e condutas são monitorados pelo Estado. Uniformizada e considerada sortuda por compor o time das mulheres férteis, é  colocada na casa de um dos comandantes para que tenha filhos dele.

É uma leitura densa, pesada em muitos momentos, mas que traz consigo muitos questionamentos possíveis de serem aplicados a sociedade atual.



Marcelle Marinho