quinta-feira, 18 de junho de 2020

Dica de leitura - Prisioneiras




Li esse livro em 2017 para o Clube de Leitura da Livraria Martins Fontes. Já tinha lido, há muitos anos atrás, o Estação Carandiru do Drauzio. Assim como no Estação Carandiru, ele relata suas experiências enquanto médico voluntário no sistema prisional paulista. A diferença é que enquanto o Estação Carandiru foca a penitenciária masculina, neste o foco é a feminina, com todas as suas particularidades. 

Uma das diferenças com relação a esse livro é a questão da solidão das detentas. Enquanto nos presídios masculinos existem filas e filas no dia de visitas, nas prisões femininas isso não existe. Elas são largadas à própria sorte, muitas vezes por serem motivo de vergonha para os familiares. Muitas são presas nas portas dos presídios masculinos tentando levar drogas para os seus companheiros. Quando elas são pegas e presas, são abandonadas por eles.  

É impossível sair o mesmo depois dessa leitura. O impacto emocional dos relatos presentes no livro é tão forte quanto o retratado no Estação Carandiru. É uma leitura forte, densa, mas muito válida a fim de se conhecer o que se passa do lado de dentro das prisões de uma forma ampla.



Marcelle Marinho

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Dica de leitura - O arroz de Palma




Li esse livro em 2017 para o Clube de Leitura na Livraria Martins Fontes. Que livro sensível!!! É uma história sobre laços de família, pessoas e muitas vidas. Logo nas primeiras páginas do livro, nos deparamos com o seguinte pensamento:

"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência".

O livro tem humor e ensinamentos ditados em sentença que dão um sabor a mais à história do arroz, acompanhado de humor inteligente. A história é sobre uma família portuguesa que migrou para o Brasil. Os 100 anos de lembrança são contados através da voz de Antônio, o primogênito de quatro irmãos, filhos de José Custódio e Maria Romana. Toda a narrativa do livro vem das recordações de António - cozinheiro de profissão - sempre recheadas de afeto. Ao comemorar seus 88 anos ele prepara um almoço de família e reúne todos: mulher, filhos, netos, irmãos.
A história do livro gira em torno de um arroz. No dia do casamento de seus pais, uma chuva torrencial de arroz cai em cima deles e Tia Palma, irmã de Custódio, possuidora de uma alma mágica, recolhe do chão todo arroz e dá de presente aos recém-casados: 

"Este arroz, plantado na terra, caído do céu como o maná do deserto e colhido da pedra - é símbolo de fertilidade e eterno amor. Esta é a minha benção."

O arroz místico e sagrado, não estraga. Ao ser ingerido, o arroz provoca felicidade e fertilidade. Acompanha gerações e resiste a uma migração. O livro não é um diário ou álbum de família perfeito. Ao contrário, muita coisa acontece: casamentos, brigas, separações, intrigas, comemorações, nascimentos, diferentes opções sexuais, desentendimentos e mortes. Tudo o que uma família tem direito, temperada com as palavras do autor, que sabe dosar as palavras com uma poesia deliciosa:

"Família é afinidade, é à Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família do seu jeito."

O Arroz de Palma não é um livro de receitas para se conviver em família. Família boa é à Moda da Casa. É um livro para pegar, ler com alma e guardar com carinho.


Marcelle Marinho

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Dica de leitura - Stoner


Li em 2017 esse livro. Não conhecia esse autor. Li para um clube de leitura na Livraria Martins Fontes Paulista. William Stoner é um garoto de fazenda, filho de agricultores pobres, um filho da terra. É enviado para a cidade para estudar Ciências Agrárias, visando tocar a fazenda de seus pais e modernizá-la. O rumo de sua vida muda quando assiste uma aula de literatura inglesa na faculdade e o professor lê um soneto de William Shakespeare. Abandona o curso de Ciências Agrárias e vai estudar literatura inglesa. 

Ele percebe que existe algo lá fora que pode liberar a sua humanidade e que a literatura é um poderoso instrumento de libertação. A literatura é a verdadeira religião de Stoner, e é isso que, em última análise, redime sua vida. William Stoner aprende latim e grego, transforma-se em um aluno do primeiro time da literatura inglesa da faculdade e recebe seu diploma de Letras. Quando os pais de William descobrem que ele havia desistido das Ciências Agrárias e seguido Literatura, ficaram decepcionados. Não era o plano que eles tinham para ele. William continua seus estudos até obter o diploma de Doutorado.

Stoner é um livro que fala da loucura, das fraquezas humanas, da inadequação, de traição e decepções, mas sem ilusões, sem desespero. É sobre as derrotas e vitórias comuns à raça humana, que não são registradas nos livros de história. A tristeza de Stoner é uma sensação pura e perto da verdadeira tristeza da vida. 

Marcelle Marinho

domingo, 17 de maio de 2020

Dica de leitura - Fahrenheit 451


Li esse livro em 2017. Um romance distópico de ficção científica. Conta sobre uma realidade em que o trabalho dos bombeiros é basicamente queimar todos os livros existentes porque na sociedade em questão foi instaurada a cultura da censura, de combate ao pensamento crítico e autônomo das pessoas. O próprio título do livro faz alusão a essa questão: Fahrenheit 451 é a escala de temperatura em que o papel é queimado, correspondente à 233 graus Celsius. Uma obra com forte crítica social referente ao autoritarismo e repulsa ao conhecimento. 
Esse livro conta sobre a paixão pelos livros e a importância que o conhecimento tem na sociedade, visto muitas vezes como uma ferramenta de transformação social.
Certamente, é uma leitura que vale a pena à todos que amam os livros!


Marcelle Marinho

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Dica de leitura - Não era você que eu esperava


Li essa história em quadrinhos em 2017. Uma das melhores que já li até então. É uma verdadeira aula sobre a Trissomia 21 (Síndrome de Down). Um livro autobiográfico que o conta o desenvolvimento desde a gestação de Júlia, segunda filha do autor e portadora da Trissomia 21. 
A história se inicia com um flashback de sua infância, onde o autor retrata a si mesmo com um grupo de amigos que encontra um menino que tem Síndrome de Down. Enquanto os amigos zombam dele, ele permanece calado. Esse momento é a primeira abordagem sobre a condição, nos encaminhando para o autor já adulto, morando no Brasil, casado e com uma filha pequena, Louise.
Após um tempo a família decide voltar para a França. Juliana, então grávida de Julia, e Fabien passam a idealizar ainda mais a vida com a nova filha que, para alívio do pai, foi diagnosticada com a saúde perfeita, livrando-o assim do seu maior medo: uma filha portadora da Síndrome de Down.
É com o nascimento da filha mais nova que a vida de Fabien e família vira de cabeça para baixo. Ao visitá-la na maternidade ele constata sinais físicos de uma criança trissômica, condição que é negada pelos médicos. O autor não esconde a rejeição que sente pela filha. 
A partir de então assistimos a inserção do autor - que utiliza a monocromia para expressar seus sentimentos nas diversas fases da história - e sua família num mundo completamente novo. Indo de um pai que não consegue segurar ou dar banho na filha em consequência da ausência do vínculo afetivo, Fabien vai aos poucos se adaptando a ideia de ter uma filha com Síndrome de Down. 

Esse foi um livro que me fez sair da leitura muito melhor do que eu entrei. Com sua linguagem nua e crua, desfazendo mitos e preconceitos sobre a Síndrome de Down. É realmente uma leitura que vale a pena. 


Marcelle Marinho

sábado, 4 de abril de 2020

Dica de leitura - Meus desacontecimentos



Li em 2017 esse livro. Nele, Eliane Brum revela como criou um corpo de letras para dar conta do enorme desafio de construir uma existência com significado. Logo no início, porém, ela já alerta o leitor de que a vida de cada um é sua primeira ficção: o livro deve ser lido como uma história em movimento, em que cada capítulo está aberto a uma nova decifração, já que na trajetória humana nem a morte é o ponto final. 
Em cada página personagens fantasticamente reais incorporam-se. A irmã morta, que era a mais viva entre todos. A avó, comedida em tudo, menos na imaginação. A família que precisou de uma perna fantasma para andar no novo mundo. As tias que viravam flores para não murchar. A menina que flertava com a morte conta como foi salva pela palavra escrita. É um livro emocionante! Vale muito a leitura!



Marcelle Marinho

sexta-feira, 27 de março de 2020

Dica de leitura - Outros jeitos de usar a boca



Esse foi o primeiro livro de poesia que eu li em 2017. Até então não tinha o hábito de ler poesia. Sinceramente tinha um preconceito. Achava que a poesia não era para mim, que precisava ser muito "estudado" para ler e entender poesia. Esse livro tirou completamente essa visão equivocada. Neste livro, Rupi Kaur faz uso de poesias que empoderam as mulheres, que questionam o lugar delas na sociedade. O livro está dividido em quatro temáticas principais: A Dor, O Amor, A Ruptura e A Cura. As poesias são de extrema sensibilidade, enriquecidas por ilustrações da própria autora. É um livro que precisa ser sentido. Todas as palavras aqui usadas para descrever minha experiência de leitura com esse livro não serão suficientes.
Leiam esse livro!



Marcelle Marinho

quinta-feira, 5 de março de 2020

Dica de leitura - O tribunal da quinta-feira



Li esse livro em 2017. Nesses tempos de tecnologia em que encontramos um verdadeiro tribunal na internet, muito mais para o mal do que para o bem, esse livro é muito oportuno. Julgamentos sumários são dados com a rapidez de um clique e sem chance de defesa. Qual a razão dos julgamentos virtuais serem "oito ou oitenta", "preto no branco"? Ah se a vida fosse assim... Mas não é. Existem variáveis, circunstâncias, pormenores, entrelinhas... Essa subjetividade que o mundo virtual por vezes desconhece, afinal está a uma tela de computador de distância, não é mesmo? E com a "invisibilidade" da internet é muito fácil descarregar o ódio, a raiva e o rancor na rede. Esse livro é uma denúncia dos estragos que o linchamento virtual causa na vida das pessoas "julgadas". Nunca uma máxima foi e é tão presente: "Levam-se anos para construir a confiança e apenas segundos para destruí-la".



Marcelle Marinho

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Dica de leitura - Quarenta dias


Li esse em 2017. Alice é uma professora aposentada, que mantinha uma vida pacata em João Pessoa até ser obrigada pela filha a deixar tudo para trás e se mudar para Porto Alegre. Mas uma reviravolta familiar a deixa abandonada à própria sorte, numa cidade que lhe é estranha, e impossibilitada de voltar ao antigo lar. Ao saber que Cícero Araújo, filho de uma conhecida da Paraíba, desapareceu em algum lugar dali, ela se lança numa busca frenética, que a levará às raias da insanidade. "Eu não contava mais horas nem dias", escreve Alice. "Guiavam-me o amanhecer e o entardecer, a chuva, o frio, o sol, a fome que se resolvia com qualquer coisa, não mais de dez reais por dia."



Marcelle Marinho

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Dica de leitura - As boas mulheres da China


Li em 2017 esse livro. Entre 1989 e 1997, a jornalista Xinran entrevistou mulheres de diferentes idades e condições sociais, a fim de compreender a condição feminina na China moderna. Seu programa de rádio, Palavras na brisa noturna, discutia questões sobre as quais poucos ousavam falar, como vida íntima, violência familiar, opressão e homossexualidade. De forma cautelosa e paciente, Xinran colheu inúmeros relatos de mulheres em que predomina a memória da humilhação e do abandono: estupros, casamentos forçados, desilusões amorosas, miséria e preconceito. São histórias como as de Hongxue, que descobriu o afeto ao ser acariciada não por mãos humanas, mas pelas patas de uma mosca; de Hua'er, violentada em nome da "reeducação" promovida pela Revolução Cultural; da catadora de lixo que impôs a si mesma um ostracismo voluntário para não envergonhar o filho, um político bem-sucedido; ou ainda a de uma menina que perdeu a razão em conseqüência de uma humilhação intensa. Quando Xinran começou suas entrevistas, o peso de tradições antigas e as décadas de totalitarismo político e repressão sexual tornavam muito difícil o acesso à intimidade da mulher chinesa. Desde 1949, a mídia chinesa funcionava como porta-voz do regime comunista. Rádio, televisão e jornais estatais eram a única fonte de informação, e a comunicação com pessoas no exterior era rara. Em 1983, o presidente Deng Xiao Ping iniciou um lento processo de abertura da China. Alguns jornalistas começaram a promover mudanças sutis na maneira como apresentavam as notícias. O programa apresentado por Xinran era um dos poucos espaços em que as pessoas podiam desabafar e falar de seus problemas pessoais. Nos relatos do livro, a autora possibilita a vozes antes silenciadas revelar provações, medos e uma capacidade de resistência que as permitiu se reerguer e sonhar em meio ao sofrimento extremo. Em condições extremas de vida, como a dos campos de reeducação da Revolução Cultural, afloram sentimentos de maternidade, compaixão e amor. O olhar objetivo de Xinran dá ao tema um tratamento firme e delicado, trazendo à tona as esperanças e os desejos escondidos nessas difíceis vidas secretas. 


Marcelle Marinho