quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Arrastar os Pés

 Quando tinha 15 anos ouvi uma Freira no colégio falar para as crianças numa sala de aula. 

- Andem sempre levantando os pés do chão.  

- Quem arrasta os pés está em desânimo,  perdido, em depressão,  sem vontade de nada, desmotivado em sua existência... o tempo passa. 

Essa freira chamava Irmã Lázara. 

Era protegida de S. José.  Quando criança,  seus pais morreram num acidente de carro e ela órfã foi cuidada e criada no convento. 

Tinha premonições e vidência. Colocava sua mão na testa das pessoas e retirava as dores da Alma e do corpo físico.  

Por suas lições tive a vontade de estudar Psicanálise e Linguagem do Corpo. Olhar o ser humano de outra forma. 

Fica aí um novo olhar para os adultos que estão arrastando os pés, e muitas pessoas se irritam e reclamam ou criticam bastante. 

Quando nossa irritação chega ao ponto do desrespeito, algo errado está em nós.  O outro desperta o bom e o ruim que já existe em nós.  

Sistemicamente poderia ser dito que essa pessoa, que arrasta os pés estaria seguindo aqueles que se foram ou, para honrar alguém perdido no sistema estaria sem rumo e desmotivado em seu Destino. 

Talvez a Constelação nos conte sobre a pessoa que anda com os pés arrastando ou a  psicossomática também seja o caminho. 

O importante é enxergar com os olhos do coração.   

Sintomas vistos e descritos no mundo da Vida. 💖


Myriam Baraldi 

Psicanalista. Professora de Constelação Sistêmica Integrativa e de Aromaterapia Sistêmica.  Especialista em Dependência Química pela UNIFESP /UNIAD e em Mediação e Contratos Sistêmicos. Advogada.  Mediadora Judicial e Extrajudicial. Analista Emocional. Master PNL.


quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Dica de leitura - O último abraço



Li esse livro em 2018. Conta a história real do casal Nelson e Neusa, onde ela com 72 anos estava refém da cama numa casa de repouso, depois de quatro AVCs e em depressão profunda. Parecia não estar mais ali. Durante quatro anos Nelson a visitava todos os dias. A vida começou a ficar insuportável para Nelson, com 74 anos, um braço semiparalisado e impossibilitado de trabalhar na oficina mecânica montada em sua casa. 

Em 28 de setembro de 2014, pelo terceiro dia consecutivo o aposentado transportava uma bomba no bolso, sem coragem de detoná-la. Uma enfermeira interrompe a visita de Nelson a esposa. Ela arrancou das mãos de Nelson uma pequena bisnaga com o que ele gotejava água de coco nos lábios e na língua de Neusa. A iniciativa era incompatível com a sonda e vetada no asilo. Tiraram de Nelson o único ponto de contato com a esposa. 

Essa situação foi o estopim para que Nelson tomasse a decisão o artefato explosivo que carregava consigo., como uma forma de por fim aquele sofrimento. Da explosão que matou Neusa, ele saiu ferido e intoxicado. Passou alguns dias no hospital e três meses numa clínica psiquiátrica. 

No país que obriga as pessoas a viverem a decrepitude, o fim indigno, lento, arrastado e desumano, Nelson agiu na tentativa de libertar a mulher. Onde o Estado nega ajuda médica para morrer, o marido pretendeu tirar a companheira do que não era mais vida. E desejava para si o suicídio. Queria ir embora com Neusa. Seu livro transpira a vida como ela é: Nelson amava Neusa, havia carinho, companheirismo e também sentimentos contraditórios, algumas rusgas e mágoas. O romance deles era de carne, osso e rotina.

O Último Abraço levará o leitor a pensar um pouco na solidão da velhice, no sofrimento que não produz cura e na ausência de direitos – até mesmo o de sanar a sede com algumas gotas de água. 



Marcelle Marinho


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Dica de leitura - Para poder viver




Fiz essa leitura em 2018. Conta a história biográfica da autora, que aos 13 anos fugiu da Coréia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, cujo governo é conduzido com mãos de ferro pelo ditador Kim Jong-un. O objetivo de Yeonmi ao fugir da Coréia do Norte era apenas sobreviver à fome, às doenças e ao governo repressor. 

"Eu não estava sonhando com liberdade quando fugi da Coréia do Norte. Eu nem mesmo sabia o que significava ser livre. Tudo que sabia era que, se minha família ficasse para trás, provavelmente morreríamos - de inanição, de alguma doença, das condições desumanas de um campo de trabalho para prisioneiros. A fome tornara-se insuportável, eu queria arriscar minha vida pela promessa de uma tigela de arroz."

Imersos em uma cultura fortemente patriarcal, com sistema de castas e um culto ao líder que faz as pessoas acreditarem, a fim de obedecê-lo, que ele possui até mesmo poderes sobrenaturais, sendo capaz de controlar mentes, o controle do Estado sobre as pessoas é total e devastador. 

"Durante a minha infância, meus pais sabiam que a cada mês que passava, ficava mais difícil sobreviver na Coréia do Norte, mas não sabiam por quê. A mídia estrangeira era totalmente banida no país, e os jornais só davam boas notícias sobre o regime - ou punham a culpa de todas as dificuldades em tramas malignas de nossos inimigos."

O livro é dividido em três partes: Coréia do Norte, China e Coréia do Sul. Em algumas partes, a leitura é um pouco densa, difícil, mas extremamente necessária para que se tenha uma visão do todo, de como é a Coréia do Norte. 

É uma leitura que recomendo para que se conheça, um pouco que seja, um dos países mais fechados do mundo.



Marcelle Marinho

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Dica de leitura - O conto da aia




Fiz essa leitura em 2018, antes do livro virar série na televisão. É uma distopia teocrática onde, após uma revolução, todas as mulheres se tornam propriedades do Estado, que tem como promessa e objetivo o controle de natalidade a qual a sociedade de Gilead tem enfrentado. O livro descreve um regime abusivo, que cerceia os direitos humanos e suas liberdades. A autora nos apresenta uma realidade que por mais dura e absurda que seja, nos toca ao intercalar momentos do presente e passado da protagonista. Todos os seus passos e condutas são monitorados pelo Estado. Uniformizada e considerada sortuda por compor o time das mulheres férteis, é  colocada na casa de um dos comandantes para que tenha filhos dele.

É uma leitura densa, pesada em muitos momentos, mas que traz consigo muitos questionamentos possíveis de serem aplicados a sociedade atual.



Marcelle Marinho

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Dica de leitura - K, relato de uma busca




Li esse livro em 2017. Essa obra, publicada pelo jornalista, escritor e cientista político Bernardo Kucinsk tem como palco o Brasil sob o regime militar. K, o personagem principal, polonês imigrante brasileiro, recebe cartas do banco em nome de sua filha, morta no período da ditadura militar. Ele conta a sua história numa tentativa de se opor ao esquecimento nacional desse período. 

Quando ele percebe o desaparecimento da filha, uma professora de química da USP, começa uma busca incessante. Aos poucos, entre pistas que vão sumindo, K. começa a entender que o Estado é o responsável pelo desaparecimento de sua filha, dando vida ao grande personagem desse livro: o labirinto da ditadura.

Ao longo dos breves capítulos do livro, fortes como um soco no estômago, K passa a conhecer e aprofundar-se na vida de sua filha. Sua busca solitária ganha força e se torna símbolo da luta no final do regime militar pelo reconhecimento dos mortos pela ditadura. 

É um livro forte, pesado, denso mas necessário para que se conheça essa parte da história do Brasil, por vezes menosprezada. 



Marcelle Marinho

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Dica de leitura - A diferença invisível




Fiz essa leitura em 2017. É mais uma daquelas em que saí transformada. Aqui conhecemos a história de Marguerite, uma francesa que tem seu emprego, namorado, bichos, suas tarefas diárias, mas ainda assim se sente desencaixada do resto das pessoas. Ela tem dificuldade em realizar ações que para muitos são simples, como se relacionar com pessoas, viajar, ir à festas. A solução encontrada por ela foi viver em seu casulo. Mas um casulo, apesar de protetor, é frágil. Em algum momento se quebra e é necessário encarar o que há fora dele.

Graças a esse déficit social Marguerite descobre que tem a Síndrome de Asperger, uma variação do autismo. Ela não se abate com a descoberta. Finalmente ela se sente levada a sério e a partir daí começa a se descobrir. 

O uso de cores, que no início da história limita-se ao preto, branco, cinza e vermelho, vai se diversificando ao longo da narrativa a cada descoberta de si mesma feita por Marguerite. Sua vida agora é outra: mais colorida e dinâmica. 

Certamente, é uma leitura que te transforma!



Marcelle Marinho

Dica de leitura - Relatos de um gato viajante




Li este livro em 2017. É um livro para quem ama gatos, pois o personagem principal é o gato Nana. Ele é um gato de rua, adotado por Satoru após ser atropelado. Acontece que depois de algum tempo na companhia um do outro, Satoru não poderá mais ficar com Nana e resolve encontrar um novo lar para o gato. 
Os dois começam uma viagem pelo Japão, que vai de encontro às pessoas especiais que fizeram parte da vida de Satoru. 

É uma leitura leve, agradável, para aqueles momentos em que se quer relaxar. 
Vale muito a pena.

Marcelle Marinho

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Dica de leitura - O livro dos ressignificados




Li esse livro em 2017. Me encantei por ele logo que tive contato. É um livro de poesias em que o autor cria ressignificados para as palavras de uma forma muito poética. O livro está dividido em seções: O jardim, O zodíaco, O coração, A mente, A cidade e A história de nós dois. Dentre os muitos novos significados para as palavras, os que eu mais gostei foram: 

sonhar

é um marinheiro em fuga da realidade. é o movimento de mar e desejos navegando em ondas de realidade. é um oceano inteiro de bons sentimentos. é a ressaca do estresse que faz a gente deitar nas nuvens do nosso ser e relaxar. 

é ação que não cabe em mim. transborda. 


arte

é fuga. é lar. é para onde correm as pessoas que procuram se encontrar. é a filha primogênita de quem tenta se expressar. nem sempre é o nosso melhor lado, mas é sempre o mais sincero. é o rosto do Criador por debaixo de qualquer máscara. é um incômodo na existência. é uma boa razão para se estar vivo.

é o ofício dos corações inquietos.


silêncio

o seu me bota medo. o do mundo às vezes me traz calma. é a faca de dois gumes da meditação. enlouquece quem muito pensa. é a melhor opção frente a comentários ignorantes. é quando a fala morre de infarto. é o momento em que se pode ouvir o vento cantar.

é o que faz meu coração ao ver você passar.



coragem

é quando vivemos com o coração, e não com a cabeça. é o nosso instinto contra a razão. é lutar contra chances baixas demais e situações ruins. é o bicho-papão do próprio bicho-papão. é estratégia de combate para derrotar o inesperado. é a ação que refuta a lógica. é o que faz o jogo virar.

do latim coraticum, significa "coração em ação".



É uma leitura que certamente vale a pena!



Marcelle Marinho

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Dica de leitura - Muito longe de casa




Li este livro em 2017. Aqui estamos diante de um testemunho em primeira pessoa, escrito não apenas por uma testemunha ocular mas também por um agente diretamente envolvido na guerra que nos tenta reconstruir. A experiência de Beah como soldado se dá em apenas uma parte do livro, antes disso, temos um relato detalhado do que foi sua vida desde que o seu vilarejo foi tomado pelos rebeldes, perambulando por um ano, a fim de fugir da morte. Depois uma extensa exposição do seu lento processo de redenção. Ishmael Beach oferece-nos um relato sincero e sem rodeios das consequências de uma guerra para os seus envolvidos, no que diz respeito a falta do humanismo e à banalização da morte. 

É uma leitura difícil, densa, mas que certamente vale a pena.



Marcelle Marinho

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Dica de leitura - Vozes de Tchernóbil




Li esse livro em 2017. São relatos de sobreviventes do acidente nuclear ocorrido em Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986. É um livro difícil, denso, doloroso de ser lido. Das suas páginas exalam catástrofe e sofrimento. Tão logo o acidente aconteceu, milhares de partículas radioativas foram lançadas na atmosfera, se espalhando rapidamente por toda a Europa. Milhões de vidas se viram transformadas radicalmente, em poucos segundas, com a inauguração a partir desse acontecimento, uma nova era, marcada pela forma diferenciada de destruição, caos e horror, provocada pela radiação. 

A autora busca com o livro dar voz às memórias, frustrações, sonhos, aspirações, paixões e tragédias de milhares de homens e mulheres que foram testemunhas de eventos traumáticos ao longo do século XX. Não interessa a ela reconstruir a história do acidente em si, pois sobre ele já foram feitas muitas reportagens e dezenas de filmes. O que importa para ela é narrar o que ela chama de "história omitida", "os rastros imperceptíveis da nossa passagem pela Terra e pelo tempo". O foco é os impactos e consequências do desastre na vida de milhares de pessoas. 

É uma leitura que recomendo para que se tenha uma perspectiva humana, de se colocar no lugar do outro, não só nessa situação do desastre nuclear mas em outras tantas situações, sejam elas desastres mundiais, sejam vivências cotidianas.



Marcelle Marinho